Oito Versos
O Treinamento da Mente em Oito Versos
Eight Verses of Training the Mind (Tib. བློ་སྦྱོང་ཚིགས་རྐང་བརྒྱད་མ་, Wyl. blo sbyong tshigs rkang brgyad ma) — a famous text on lojong by Geshe Langri Tangpa.
Domingo
Com o desejo de atingir a iluminação
Para o bem de todos os seres sencientes,
Que superam até mesmo a Joia que Realiza Desejos,
Que eu possa apreciá-los constantemente
Segunda
Sempre que estiver com os outros,
Que eu me considere o menos importante
E, do fundo do coração,
Aprecie todos e os considere supremos.
Terça
Em todas as atividades, que eu examine a minha mente
E, assim que emoções aflitivas surgirem,
Pondo em perigo a mim e aos outros,
Que eu as confronte e as evite com firmeza.
Quarta
Sempre que eu vir um ser maldoso,
Tomado por intensa negatividade e sofrimento,
Que eu o aprecie como algo raro,
Como quem se depara com um tesouro inestimável.
Quinta
Quando os outros por inveja
Me destratarem com calúnias e insultos,
Que eu tome a derrota para mim
E lhes ofereça o triunfo.
Sexta
Quando alguém a quem ajudei
Com tanta esperança e expectativa
Me magoar profundamente e sem razão,
Que eu o considere como meu mestre sublime.
Sábado
Em resumo, que eu possa, direta e indiretamente,
Oferecer felicidade e paz a todas as minhas mães;
E tomar secretamente sobre mim
Toda a sua maldade e sofrimento.
Todos os dias
Que, em todas essas [ocasiões], a minha mente não seja maculada
Pelas oito preocupações comuns
E saiba que todas as coisas são ilusões:
Livre de apego, que eu possa libertar todos os seres do cativeiro.
༄༅། །བློ་སྦྱོང་ཚིག་བརྒྱད་མ་བཞུགས་སོ། །
༡༽ བདག་ནི་སེམས་ཅན་ཐམས་ཅད་ལ། །
ཡིད་བཞིན་ནོར་བུ་ལས་ལྷག་པའི། །
དོན་མཆོག་སྒྲུབ་པའི་བསམ་པ་ཡིས། །
རྟག་ཏུ་གཅེས་པར་འཛིན་པར་ཤོག །
༢༽ གང་དུ་སུ་དང་འགྲོགས་པའི་ཚེ། །
བདག་ཉིད་ཀུན་ལས་དམན་བལྟ་ཞིང༌། །
གཞན་ལ་བསམ་པ་ཐག་པ་ཡིས། །
མཆོག་ཏུ་གཅེས་པར་འཛིན་པར་ཤོག །
༣༽ སྤྱོད་ལམ་ཀུན་ཏུ་རང་རྒྱུད་ལ། །
རྟོག་ཅིང་ཉོན་མོངས་སྐྱེས་མ་ཐག །
བདག་གཞན་མ་རུངས་བྱེད་པས་ན། །
བཙན་ཐབས་གདོང་ནས་བཟློག་པར་ཤོག །
༤༽ རང་བཞིན་ངན་པའི་སེམས་ཅན་རྣམས། །
སྡིག་སྡུག་དྲག་པོས་ནོན་མཐོང་ཚེ། །
རིན་ཆེན་གཏེར་དང་འཕྲད་པ་བཞིན། །
རྙེད་པར་དཀའ་བས་གཅེས་འཛིན་ཤོག །
༥༽ བདག་ལ་གཞན་གྱིས་ཕྲག་དོག་གིས། །
གཤེ་བསྐུར་ལ་སོགས་མི་རིགས་པའི། །
གྱོང་ཁ་རང་གིས་ལེན་པ་དང༌། །
རྒྱལ་ཁ་གཞན་ལ་འབུལ་བར་ཤོག །
༦༽ གང་ལ་བདག་གིས་ཕན་བཏགས་པའི། །
རེ་བ་ཆེ་བ་གང་ཞིག་གིས། །
ཤིན་ཏུ་མི་རིགས་གནོད་བྱེད་ནའང༌། །
བཤེས་གཉེན་དམ་པར་བལྟ་བར་ཤོག །
༧༽ མདོར་ན་དངོས་སམ་བརྒྱུད་པ་ཡིས། །
ཕན་བདེ་མ་རྣམས་ཀུན་ལ་འབུལ། །
མ་ཡི་གནོད་དང་སྡུག་བསྔལ་ཀུན། །
གསང་བས་བདག་ལ་ལེན་པར་ཤོག །
༨༽ དེ་དག་ཀུན་ཀྱང་ཆོས་བརྒྱད་ཀྱི། །
རྟོག་པའི་དྲི་མས་མ་སྦགས་ཤིང༌། །
ཆོས་ཀུན་སྒྱུ་མར་ཤེས་པའི་བློས། །
ཞེན་མེད་འཆིང་བ་ལས་གྲོལ་ཤོག །
ཅེས་པ་འདི་ནི་དགེ་བཤེས་གླང་ཐང་པ་རྡོ་རྗེ་སེངྒེའི་གསུང་ངོ༌།། །།
Casamento
Casamento
S. Ema. Chagdud Tulku Rinpoche
Os votos de casamento não são apenas parte de uma cerimônia externa. São mais importantes, já que representam um compromisso interno, mental. Para entender como manter esse compromisso durante a vida, você precisa compreender o contexto maior desses votos.
Dentre os vários tipos de seres no universo, nós, como humanos, atingimos uma situação muito rara e afortunada, uma base ímpar para o trabalho de desenvolvimento espiritual. Contudo, se não reconhecermos a preciosidade de nossa vida humana, a desperdiçamos – como alguém que encontra uma pepita de ouro e, não reconhecendo seu valor, faz mau uso dela, talvez como um objeto que possa segurar sua porta. Agora somos como minério de ouro bruto, não reconhecemos nossa natureza verdadeira como ouro. Quando usamos bem essa oportunidade, podemos refinar o minério para revelar nossa pureza inerente, nossa natureza divina.
No casamento, cada um pode apoiar o caminho espiritual do outro e ajudar a assegurar que o potencial da vida humana não seja desperdiçado. Isto é muito importante já que a oportunidade que temos como humanos é muito breve. É natural desejarem permanecer juntos por um longo tempo, mas não podem saber quanto tempo suas vidas ou relacionamentos vão durar. Tudo é impermanente em nossas experiências. Este universo que habitamos não existia há muito tempo e, um dia, ele será mais uma vez reduzido ao nada. Houve um tempo em que nosso corpo físico não existia e um dia ele terá, mais uma vez, desaparecido. De todas pessoas que viveram nesta terra há cem anos atrás, quantas ainda estão aqui? E dessas, quantas estarão aqui dentro de cem anos? Se vocês entenderem a impermanência, perceberão a importância de usar bem o tempo que estão juntos.
Desde o início, precisam pensar claramente qual é a direção que seu casamento vai tomar. O mais importante não é tanto estarem juntos e sim como irão usar o tempo que estão juntos. Casamento significa o compromisso de agora em diante, pelo resto de suas vidas, viver em harmonia, com alegria, amor e afeição, e com a intenção de beneficiar um ao outro, o máximo possível. Isto significa tentar diariamente colocar a felicidade do seu parceiro à frente da sua. Tanto no nível mundano quanto espiritual, é a decisão de atender às necessidades e contribuir para o crescimento espiritual do outro. O amor genuíno e altruísta que vocês expressam um pelo outro irá criar virtude que trará felicidade nesta vida e plantará as sementes de felicidade futura.
Cada um de vocês escolheu o outro entre tantas flores deste jardim terrestre. Assim, é importante que você encare o casamento com um senso de altruísmo, de beneficiar um ao outro o máximo possível, na alegria e na tristeza, felicidade e infelicidade. Se o homem inicia o relacionamento pensando “Esta mulher é minha esposa agora, é dever dela me dar o que necessito, me fazer feliz”, ou se a mulher pensa “Este agora é meu marido, ele me deve felicidade, ele deve me satisfazer”, estas expectativas só criarão problemas. Ao invés de exigir isto do outro e esperar algo para si mesmo, comprometam-se um com o outro, assumam a responsabilidade pela felicidade do seu parceiro. Tenham em mente que o que fazem ou dizem afeta o outro. Aprendam como trazer felicidade ou paz de espírito, um ao outro.
Se ambos se preocuparem com a felicidade do outro nunca irão se separar. Seu elo não poderá ser rompido.
Se, por outro lado, vocês colocarem a responsabilidade pela sua felicidade em seu cônjuge, se sentir que ele ou ela lhe deve algo, somente verá as falhas do seu parceiro. Se sua motivação fundamental for a esperança de que o outro o fará feliz, então o seu casamento não será tão fácil, e sua felicidade não durará tanto. Aproximar-se do casamento com um ponto de vista egocentrado, estabelece automaticamente as circunstâncias que irão frustrar a possibilidade de um bem maior. Mas, se sua motivação for trazer felicidade à outra pessoa, ambos serão felizes tanto a curto quanto a longo prazo, e trarão felicidade àqueles a seu redor. Este é o significado do sucesso tanto num senso mundano quanto espiritual.
A felicidade que experimentamos na vida depende muito de nossa motivação. E a nossa motivação é tão importante no casamento quanto em qualquer outra área humana. Embora uma motivação altruísta não seja o mesmo que boditchita, que possui um âmbito maior – o benefício temporário e definitivo de todos os seres –, é um modo de praticar o altruísmo de modo muito direto, com a pessoa que está ali, a seu lado. E você pode usar o relacionamento com seu cônjuge como um modelo de relacionamento para com todo o mundo.
Para manterem seus compromissos, vocês precisam estar preparados para enfrentar obstáculos com coragem. Embora aspiremos ao divino, atritos podem ocorrer. Nenhum de nós é perfeito. Em nossos relacionamentos, é comum enfrentarmos emoções negativas, mesquinharias, pensamentos egoístas, e todos os tipos de estados físicos e mentais, alguns agradáveis, outros desagradáveis. Estas coisas irão testar seu compromisso – ele deve ser capaz de suportar o que quer que aconteça. O importante não é o que virá, mas como vão lidar com isso, como vão trabalhar para garantir que seu casamento dure por toda a vida.
Comprometam-se a ajudar um ao outro, a serem amigos um do outro, em qualquer circunstância. Quando surgirem dificuldades, não importa se grandes ou pequenas, não lhes dêem tanta importância. Lembrem-se que seu parceiro é um ser humano, não um deus. Focalizem nas suas boas qualidades e não se apeguem às dificuldades. Quando o problema surgir, lembrem-se que somos todos humanos e deixem-no de lado. Durante os tempos difíceis lembrem-se que sua união é para toda a vida, seu dever é fazer o melhor. Não há tempo para discussões. Além do mais, pensar que você está certo e o outro errado é um engano que perpetua o sofrimento. Em vez disso, sejam pacientes e lembrem-se que o único benefício na hora de sua morte será a virtude que criarem nesta vida. Se mantiverem esta perspectiva no dia-a-dia, as discussões serão resolvidas e vocês vão desenvolver a paciência, o amor, a compaixão e a aceitação, qualidades que irão melhorar seu relacionamento.
Sua motivação altruísta no casamento dá corpo à primeira das seis perfeições – a generosidade, prática que é um dos meios excelentes para se acumular mérito e aumentar as qualidades virtuosas. Através do amor e compromisso, agora e no futuro, enquanto mantiverem em seus corações o amor um pelo outro, enquanto falarem de seu amor um para o outro, quando trocarem anéis como sinais físicos de seu elo, estarão expressando a qualidade da generosidade. O seu compromisso, de agora em diante, de usar o seu corpo, fala e mente para fazer feliz um ao outro, é mais uma expressão dessa generosidade.
Vocês também trazem para o casamento a segunda perfeição: a disciplina moral. Isto significa viver juntos de acordo com princípios maiores, eliminando hábitos que não servem ao relacionamento, comportamentos mesquinhos, egoístas e desarmoniosos, e acentuando qualidades positivas e altruístas como bondade amorosa, que traz grande benefício. Seu caminho espiritual é um caminho de virtude, trazendo alegria e felicidade aos outros e evitando ações descuidadas que possam causar mal ou infelicidade. Como praticantes, vocês devem usar seus corpos, falas e mentes para protegerem a si e ao seu relacionamento de obstáculos potenciais ou negatividade, e tentar, habilmente, beneficiar um ao outro. Se seu foco forem as necessidades de seu parceiro, já terão encontrado um modo poderoso de evitar problemas.
Não há dúvidas que a vida a dois é um desafio. Não se prendam à idéia de como o casamento deve funcionar, ao invés, aprendam como não perturbar um ao outro, como atingir mais e mais alegria e harmonia. Quando surgirem coisas que não gostem, tentem trabalhar com a aversão em suas próprias mentes, no contexto de sua prática do Darma em vez de tentar mudar o modo de ser do seu parceiro.
Isto também é muito importante se decidirem ter filhos. Quando vocês se tratam mutuamente com respeito e amor, e tentam resolver pacificamente os problemas que surgem, seus filhos terão um modelo a seguir para desenvolverem com sucesso seus próprios relacionamentos.
A terceira perfeição, a paciência, é uma das qualidades mais importantes que podem trazer para o casamento. Façam a promessa de sempre manterem a harmonia e lembrem-se que independentemente das mudanças externas ou emocionais pelas quais seu parceiro está passando, ele, ou ela, não é um buda. Seu companheiro é um ser humano que lida com seus próprios problemas. Tente lidar com isso com compaixão e paciência, mantendo o foco no elo que os une e não nos problemas. Tentem não ficar aborrecidos com as dificuldades que invariavelmente surgem quando as pessoas vivem juntas. Ao menos, não se fixem nelas, tentem resolvê-las imediatamente.
Sua prática de paciência trará grandes benefícios a curto prazo, no contexto de seu casamento, e também a longo prazo. Quando praticam a virtude, especialmente uma virtude tão poderosa quanto a paciência, infalivelmente o resultado será uma grande felicidade futura, o que pode ser chamado de experiência de paraíso ou terra pura. Através da raiva, ferindo os sentimentos de seu parceiro, através de seu desejo egoísta, pensando não no que faria o seu companheiro feliz, mas sim em seus próprios desejos egoístas, e através da ignorância, não conseguindo discernir quais são os comportamentos verdadeiramente prejudiciais e quais os benéficos, vocês estarão criando sofrimento a curto e longo prazo. Pois paraíso e inferno não existem fora de vocês. São, sim, reflexos dos aspectos positivos e negativos de suas próprias mentes.
Manter o compromisso que fazem um ao outro como marido e mulher requer diligência, a quarta perfeição. É necessário um grande esforço para manter verdadeira a sua ligação, empenhar-se tanto no contexto mundano quanto no de sua prática espiritual para ajudar um ao outro a atingir seus objetivos e trazer benefícios para vocês e para os outros. Todos os tipos de companheirismo no caminho são cruciais ao nosso desenvolvimento enquanto praticantes espirituais, e as qualidades de nossos amigos podem nos influenciar muito. Por isso é importante que usem seu casamento como uma oportunidade de apoiar a prática do Darma de cada um, nunca permitindo que as ações do outro, suas palavras ou atitudes, se tornem obstáculos a seu caminho espiritual. Isto requer uma prática espiritual diligente, tentando não apenas uma ou duas vezes, mas ao longo de toda suas vidas juntos atingir essas metas espirituais.
Lembrar-se sempre de seu elo, mantendo-o em seus corações e nunca deixando que se parta, envolve a quinta perfeição, a estabilidade meditativa. Isto significa focalizar naquilo que trará felicidade duradoura para vocês e para outros. Não importa quão jovens e atraentes vocês sejam hoje quando fazem juntos os seus votos. A beleza física não vai durar para sempre. Não se focalizem nela. Lembrem-se que tudo neste mundo está sujeito à decadência. Tudo que é composto, que se junta, no fim, se separa. Mas enquanto estão juntos, vocês podem trazer alegria um ao outro, podem criar virtude e podem apoiar sua própria prática espiritual e a de seus parceiros. Embora esta vida possa ser curta, a ligação que vocês estabelecerem através do envolvimento positivo e através de sua prática espiritual continuará a beneficiar a ambos por várias vidas futuras.
Finalmente, vocês trazem para o casamento a sexta perfeição, a da sabedoria, do conhecimento transcendental. Independente das alegrias e tristezas das suas experiências, como indivíduos e como par, lembrem-se que esses eventos passageiros são como ecos, ilusões, que vêm e vão, que nada que vocês experimentam possui uma existência inerente. Toda a experiência de nossas vidas é como um sonho noturno cheio de alegria e pesar, felicidade e tristeza. E do mesmo modo que acordamos de manhã e vemos que nada realmente ocorreu, podemos olhar para nossas experiências passadas em nossas vidas e ver que foram ilusórias. Os muitos momentos de felicidade e tristeza já passaram agora.
Entender a natureza profunda de nossa experiência não significa desconsiderar nossas experiências felizes. Nós ainda sentimos alegria, mas ao mesmo tempo percebemos que ela não é real como pensávamos. Quando estamos infelizes, lembramos que nossa infelicidade também é passageira. Esta perspectiva ajuda a reduzir nosso apego a que as coisas ocorram de certo modo, assim como nossa aversão às dificuldades. Percebemos que não são as condições externas as responsáveis por nossa felicidade ou infelicidade, mas o modo como reagimos a essas experiências. Isto traz aceitação e equilíbrio às nossas vidas.
Tentem manter uma consciência ininterrupta da sua verdadeira natureza, que está além dos extremos da felicidade e tristeza, prazer e dor, esperança e medo. Embora pareçam ser pessoas comuns, se tiverem uma ligação interna com a essência de sua prática, se tiverem essa visão mesmo enquanto fazem seu trabalho diário, obterão algo muito poderoso e benéfico, não importa onde vocês vivam, o que vistam, como possam agir.
A perfeição da sabedoria, no seu senso mais profundo, é corporificada pela união do masculino e do feminino que é fundamental ao caminho espiritual de Budadarma. O aspecto manifesto de todos os fenômenos corresponde ao princípio masculino dos meios hábeis, e a verdadeira natureza desses fenômenos, vacuidade, ao aspecto feminino da sabedoria, ou conhecimento transcendental. Se examinarmos qualquer elemento de nossa experiência, encontramos que sua natureza própria é vacuidade, contudo, as coisas ainda assim aparecem. Forma e vacuidade, vacuidade e forma, existem em união uma com a outra. A compreensão da inseparabilidade da vacuidade dos fenômenos e sua aparência é a qualidade transcendental que deve ser cultivada e nutrida durante suas vidas juntos.
Na sociedade humana, o elo entre mulher e homem é a expressão dessa verdade mais profunda, o casamento é uma expressão dessa harmonia. Isto traz uma dimensão mais profunda ao casamento de dois indivíduos que estão envolvidos no caminho do Darma, porque eles possuem meios de incorporar em suas vidas esta união de masculino e feminino nos quais os ensinamentos acima se fundamentam.
Se vocês permanecerem fiéis à visão da sabedoria em seu casamento e sempre, em sua vida em comum, trabalharem para trazer um benefício maior para vocês e para os outros, a curto e longo prazo, seu relacionamento produzirá nada mais que felicidade nesta e em vidas futuras, e sua união corporificará a essência dos princípios do Darma sagrado.
QUE TODOS OS SERES POSSAM SE BENEFICIAR!
Este texto foi produzido a partir das transcrições de cinco cerimônias de casamento conduzidas por Chagdud Tulku Rinpoche entre 1988 e 1993.
Saga Dawa
O Saga Dawa é um dos quatro períodos mais sagrados dentro do calendário budista, e marca o nascimento, a iluminação e o parinirvana de Buda Shakyamuni.
É dito que os méritos são acumulados exponencialmente durante esses dias e, por isso, nos dedicamos à acumulação de virtude e à renúncia a atitudes não-virtuosas, inspirando-nos na vida de Buda Shakyamuni.
Quer seja fazendo oferendas, empenhando-se em práticas de meditação ou fazendo votos que lembrem de seus compromissos, os praticantes fazem um esforço extra para manter a conduta perfeita e treinar a própria mente, para trazer benefício a todos os seres.
Jigme Khyentse Rinpoche
Jigme Khyentse Rinpoche é o filho mais novo de Kangyur Rinpoche e na infância foi reconhecido como uma reencarnação de Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö por Sua Santidade o Karmapa e por Kyabje Dilgo Khyentse Rinpoche. Seus principais professores foram Kangyur Rinpoche, Dilgo Khyentse Rinpoche, Dudjom Rinpoche e Trulshik Rinpoche.
Jigme Khyentse Rinpoche detém a linhagem de Atisha e consumou os ensinamentos de Lojong (treinamento da mente) do Mahayana; tem um conhecimento profundo do Vajraiana e demonstra sua eficácia espiritual mantendo compromissos em todos os níveis. É uma das luzes que guiam o Grupo de Tradução Padmakara, cujas traduções excelentes incluem O Caminho do Bodisatva de Shantideva, As Palavras do Meu Professor Perfeito, de Paltrul Rinpoche, The White Lotus, de Jamgön Mipham e The Treasury of Precious Qualities, de Kangyur Rinpoche.
Barched Lamsal
Barched Lamsal (ou Dusum Sangye)
por S. Ema. Chagdud Rinpoche
Ensinamento concedido durante uma acumulação da oração Barched Lamsal.
Khadro Ling, março de 1997.
Hoje, vamos fazer uma prática de remoção de obstáculos para que possam se manifestar condições favoráveis. Com essa prática, podemos remover nossos obstáculos e beneficiar aqueles que nos pediram ajuda e fizeram oferendas com esse propósito. Além de remover os obstáculos de quem solicitou a prática, podemos estender o benefício de nossas orações a todos os seres sencientes. No entanto, nossa capacidade de beneficiar está diretamente ligada à pureza de nossas ações. O ponto-chave é a motivação. Devemos manter uma motivação pura em todas as ocasiões, não somente no contexto desta prática específica. A pureza da virtude gerada dependerá da pureza de nossa motivação.
Em primeiro lugar, reconhecemos que, assim como nós, todos os seres – sejam inimigos, demônios ou pequenos insetos – anseiam por felicidade duradoura, mas não encontram a felicidade ou, quando a encontram, é uma felicidade temporária. Além disso, embora queiram ser felizes, com suas ações eles acabam criando o oposto daquilo que desejam. Ao ver essa realidade, sentimos compaixão, mas isso ainda não é o suficiente. É necessário fazer algo. Passamos a maior parte do tempo concentrados em nós mesmos e essa é uma atitude que não traz grande benefício. Nossa ação só será pura se nos desapegarmos de nós mesmos, se tivermos a intenção de ajudar os outros.
Se pensarmos no número de seres que habitam os reinos do samsara, veremos que o número de seres humanos é extremamente pequeno em comparação com o número de seres nos reinos dos infernos e dos fantasmas famintos. Entre os seres humanos, o número de pessoas que procuram uma prática espiritual não é grande. Além disso, é comum que a prática espiritual seja cultivada de forma errada, alimentando o ciúme, a inveja, o orgulho e a sensação de superioridade em relação a outras tradições espirituais. O número daqueles que mantêm uma prática espiritual com o coração puro é comparável ao número de estrelas visíveis durante o dia.
Para que a prática seja pura é necessário que esteja isenta de apego ao eu. Precisamos ser equânimes, evitar idéias como “Eu gosto desta pessoa e faço algo por ela, mas, por aquele outro, que não é uma boa pessoa, não faço.” Ou então, “Minha realização espiritual é melhor que a do outro. Ajudo os meus familiares, mas os outros, não.” Nossa intenção é ajudar a todos os seres, tanto os bons quanto os que causam mal.
Ao praticar, fazemos a aspiração de que nossos obstáculos e os de todos os seres sejam removidos, e que as condições auspiciosas, tanto mundanas quanto espirituais, possam aumentar. Rezamos também para que surjam benefícios a curto e a longo prazo. No entanto, nosso objetivo último é alcançar a iluminação. Se você tiver pesadelos constantes, pode tentar eliminá-los e passar a ter somente sonhos bons, mas ainda assim estará sonhando. Nosso objetivo é despertar do sonho. O mesmo se dá com as experiências do samsara: queremos eliminar as experiências difíceis e incrementar as positivas, mas o objetivo final é alcançar a iluminação para beneficiar a todos que nos verem, ouvirem ou tocarem em nós. Como seguidores do Mahaiana, praticamos para beneficiar a todos os seres. Devemos estabelecer esse tipo de motivação e mantê-la sempre.
Primeira linha
DU SUM SANG DJE GURU RIN PO TCHE
Guru Rinpoche, corporificação dos Budas dos três tempos;
Dirigimos esta oração a Guru Rinpoche. No nível externo, Guru Rinpoche é as Três Jóias, no nível interno é as Três Raízes e no nível secreto é os Três Kaias.
Externamente, ele é a corporificação dos Budas dos três tempos: o Buda do passado, Dipankara, o Buda do presente, Shakiamuni, e o Buda do futuro, Maitréia. Guru Rinpoche é a manifestação da essência última de todos os Budas.
Internamente, com relação às Três Raízes, ele é o lama, a fonte das bênçãos e, dessa forma, incorpora as três linhagens: a linhagem de mente a mente dos vitoriosos; a linhagem simbólica – ou dos sinais – dos detentores do estado desperto e a linhagem oral, transmitida de boca a ouvido. Guru Rinpoche é a essência última da sabedoria do lama das três linhagens.
Num sentido secreto, com relação aos Três Kaias, a natureza de Guru Rinpoche é Darmakaia, a natureza que é vacuidade inseparável de sabedoria.
Segunda linha
NGÖ DRUB KUN DAG DE UA TCHEN PO JAB
Guru que é a grande bem-aventurança, senhor de todas as realizações;
No nível externo, Guru Rinpoche também é a jóia do Darma que traz benefícios temporários e definitivos, visto que sua fala é a fonte das bênçãos dos ensinamentos.
NGO DRUB significa “fonte da verdadeira realização”, portanto, no nível interno, com relação às Três Raízes, Guru Rinpoche também é a deidade escolhida, o Yidam. Com relação aos Três Kaias, no nível secreto, ele também é Sambogakaia, a grande bem-aventurança.
Terceira linha
BAR TCHED KUN SEL DUD DUL DRAG PO TSAL
Guru que é o Dinâmico e Irado Domador de Maras, dissipador de todos os impedimentos;
Guru Rinpoche é o dissipador dos obstáculos nos cinco caminhos e dez bumis. A sanga auxilia na remoção de obstáculos e infortúnios e no aumento de qualidades positivas no caminho espiritual. Dessa forma, no nível externo, Guru Rinpoche também é a Sanga.
As dakinis e os protetores são a fonte da realização das atividades. Com essa prática, removemos todos os obstáculos à prática espiritual para que, então, as quatro atividades possam ser realizadas. Sendo assim, no nível interno, Guru Rinpoche também é as dakinis e os protetores do Darma. Ele incorpora toda a mandala das Três Raízes.
No nível secreto, ele também é Nirmanakaia, o objeto de refúgio de seres elevados e inferiores. Ele se manifesta de forma física para beneficiar todos os seres através dos ensinamentos e também os beneficia diretamente ao conceder iniciações, colocando-os no caminho da liberação. Assim sendo, Guru Rinpoche, que tem todas essas qualidades, é o objeto de nossa oração.
No nível externo, ele é as Três Jóias: Buda, Darma e Sanga. No nível interno, ele é as Três Raízes: Lama, Deidade Escolhida (Yidam) e Dakini. No nível secreto, ele é os Três Kaias: Darmakaia, Sambogakaia e Nirmanakaia.
Guru Rinpoche é a manifestação de todos os seres iluminados, a fonte de todos os ensinamentos que nos proporcionam benefício temporário e definitivo. Ele é o detentor da coroa de todas as sangas e o detentor da coroa de todos os seres iluminados.
DUD DUL DRAG PO é um nome secreto de Guru Rinpoche cujo significado é: aquele que, sem medo, remove todos os obstáculos causados por obstrutores. Ele remove os obstáculos, que são os quatro maras. Quando tais obstáculos são removidos, os quatro tipos de atividades podem ser realizadas: a atividade pacífica, a de incrementação, a do poder e a irada. Por meio dessas atividades podemos beneficiar a todos os seres.
O objeto da nossa oração é puro desde o princípio sem princípio. Ao removermos os obstáculos temporários, as duas purezas podem ser consumadas.
Pelo poder da grande sabedoria, os dois tipos de obscurecimentos (venenos mentais e obscurecimentos intelectuais) podem ser removidos. Pela consumação do estado desperto além dos extremos, os obscurecimentos são liberados diretamente no espaço básico. Por isso, Guru Rinpoche é chamado o detentor de toda manifestação.
Quarta linha
SOL UA DEB SO DJIN DJI LAB TU SOL
Quando recitamos esta oração, num sentido externo estamos chamando o nome de Guru Rinpoche, mas o que verdadeiramente precisamos entender é que Guru Rinpoche é a fonte de todas as qualidades puras e, por isso, ele tem o poder de remover todos os obstáculos.
Pensamos em Guru Rinpoche com respeito e rezamos com fé intensa. E por que rezamos? O que desejamos quando rezamos?
Com a oração externa, nos aproximamos do objeto da nossa oração. Em tibetano, essa fase é chamada nyempa (aproximação), cujo significado é “movidos pela fé, nos aproximamos”.
Outra fase é chamada drugpa, que significa realização. Num sentido interno, reconhecemos que Guru Rinpoche é inseparável das Três Jóias, das Três Raízes e dos Três Kaias. Seu corpo, fala e mente é a mandala do corpo, fala e mente de sabedoria. Nosso corpo, fala e mente também têm uma natureza pura desde o princípio sem princípio, que antes não reconhecíamos. Reconhecer essa natureza pura e manter o reconhecimento é o significado da fase de realização (drugpa).
Num sentido secreto, a natureza da nossa mente é inseparável dos Três Kaias:
O Darmakaia é a própria natureza da nossa mente, a vacuidade inseparável de suas qualidades incessantes. O Sambogakaia reúne os cinco aspectos do estado desperto atemporal, que são:
1- A sabedoria darmadatu, que é a natureza da mente além dos extremos.
2- A sabedoria discriminativa.
3- A sabedoria clara como espelho.
4- A sabedoria da equanimidade.
5- A sabedoria que tudo realiza.
Há também o Nirmanakaia e o Sobavakakaia. Os quatro kaias e as cinco sabedorias são a nossa própria mente, inseparável do Lama. Precisamos adquirir confiança em relação a esse reconhecimento. A natureza de quem reza e a do objeto da oração são inseparáveis. Descansar sem esforço nessa natureza é a atividade iluminada.
DJIN DJI LAB TU SOL – aqui invocamos ou pedimos as bênçãos. Como as bênçãos nos são concedidas?
Ao receber a bênção do corpo de sabedoria, nosso corpo é transformado em um corpo de luz, o corpo vajra, que tem as sete qualidades vajra: ele é invulnerável, indestrutível, autêntico, incorruptível, estável, desobstruído e invencível. Ao receber a bênção da fala iluminada, consumamos a fala iluminada, ou fala vajra, a inseparabilidade de som e vacuidade. Ao receber a bênção da mente iluminada, consumamos a mente iluminada, a mente vajra. Portanto, solicitamos bênçãos dessas três maneiras e pedimos que possamos revelar o corpo, a fala e a mente iluminados.
Quinta linha
TCHI NANG SANG UE BAR TCHED JI UA DANG
Com relação aos obstáculos que podem surgir em nossa prática e impedir que alcancemos a iluminação, há os obstáculos externos, que são os medos. Todos os medos são manifestações externas de nossos venenos mentais e podem ser divididos em dezesseis categorias. Por exemplo, o orgulho se reflete externamente como o medo de terremoto, a raiva se reflete externamente como o medo de fogo e assim por diante.
1- medo da terra, medo de terremoto.
2- medo da água.
3- medo do fogo.
4- medo de vento, furacão.
5- medo da chuva de meteoros.
6- medo de armas em geral.
7- medo de cadeia, medo de autoridades.
8- medo de inimigos, ladrões e assaltantes.
9- medo de demônios canibais.
10- medo de elefantes furiosos e alucinados.
11- medo de leões.
12- medo de cobras venenosas.
13- medo de doenças contagiosas.
14- medo da morte inesperada.
15- medo da pobreza.
16- medo de não realizar as aspirações.
Os obstáculos internos são os quatro maras:
1- o mara dos agregados do corpo.
2- o mara dos venenos mentais.
3- o mara do falso contentamento. Acreditar na felicidade temporária, sem reconhecer que tudo muda o tempo todo. É como lamber o mel que está sobre a lâmina de uma faca.
4- o mara da morte.
Os obstáculos secretos são os venenos mentais: ignorância, desejo, raiva, inveja/ciúme, orgulho. Todos esses obstáculos criam empecilhos à iluminação. Como removemos os obstáculos externos? Com o reconhecimento de que toda aparência é o corpo puro, todo som é a fala pura e que a natureza da mente é sabedoria pura. Toda forma, tudo o que vemos, toda aparência é reconhecida como a forma pura da deidade. Todo som que ouvimos é o mantra da deidade, o som puro. Reconhecemos o que surge na nossa mente como inseparável do estado desperto atemporal, Darmakaia.
Quando alcançamos a realização da natureza pura de todas as coisas, os obstáculos externos se dissolvem. Se reconhecermos a natureza absoluta, os pensamentos duais se dissolvem, eliminamos o apego ao eu e, assim, conquistamos os maras, purificamos os cinco venenos mentais e consumamos as cinco sabedorias. Com isso, qualquer obstáculo que se manifestar será transformado em algo bom ou melhor.
Os obstáculos externos, internos e secretos são removidos pelo poder das bênçãos do corpo, fala e mente iluminados de Guru Rinpoche.
Sexta linha
SAM PA LUN DJI DRUB PAR DJIN DJI LOB
SAMPA significa que tudo que desejarmos no nível temporário possa ser realizado e que, deste momento até que alcancemos a iluminação, todas as condições favoráveis desejadas possam se manifestar.
Quais são essas condições favoráveis? Uma existência nos três reinos superiores: no reino dos deuses, dos semideuses ou dos seres humanos. Para isso precisamos desejar possuir sete qualidades que são:
1- Ter uma vida longa. Precisamos do nosso corpo humano. Este corpo é um bom veículo, e, como em um barco, a mente é o capitão. A mente determina a direção e o corpo a serve. Então, precisamos desejar ter uma vida longa.
2- Ter saúde. A mente pode ter pensamentos positivos, mas, se o corpo estiver doente, não conseguiremos realizar o que pensamos; por isso, desejamos ter um corpo saudável, bom e forte.
3- Ter boa fortuna, boa sorte, prosperidade.
4- Ter uma boa família, porque, se nascemos em uma família de índole ruim, podemos ser influenciados negativamente.
5- Ter boas condições financeiras, não ser pobre nem passar por dificuldades.
6- Ter qualidades como a inteligência, porque, sem inteligência, também se está impossibilitado de realizar coisas.
7- Ser bonito.
Essas são as sete qualidades dos renascimentos elevados.
As sete riquezas são:
1- Fé. Seja qual for a sua tradição, se você não tiver fé, não haverá conexão. Se você não mantiver a conexão, sua prática não dará resultado.
2- Disciplina moral. Abandonar ações negativas e agir de forma virtuosa.
3- Diligência, perseverança com alegria.
4- Ser consciencioso. Ter vergonha de fazer coisas erradas por saber que os outros vão perceber.
5- Conhecimento (inteligência). Você pode querer fazer algo positivo, mas se não tiver conhecimento, não conseguirá. É importante ter a qualidade ou a boa fortuna da escuta para poder adquirir conhecimento.
6- Generosidade. Sendo avarento, não sabendo dividir nada com ninguém, mesmo que você saiba ouvir, seja saudável, tenha capacidades e qualidades, não produzirá benefício.
7- Ter o conhecimento profundo, ou conhecimento transcendental, o melhor conhecimento; em tibetano: sherab.
No caminho espiritual não basta apenas ser diligente. Pode ser que algo o incomode durante a prática e você sinta vontade de parar, mas se force a continuar praticando – essa situação não é a ideal. No entanto, se soubermos que a prática traz benefícios para nós e para os outros, praticaremos com entusiasmo. Teremos essa qualidade da perseverança com alegria. Se não tivermos perseverança com alegria, sempre que surgirem dúvidas nossa prática enfraquecerá.
Pedimos as bênçãos para que possamos usufruir de todas as condições favoráveis no caminho que leva ao objetivo último: alcançar a realização extraordinária. Todos os seres, sejam seres humanos, animais, ou outro tipo de ser, têm mente. A essência da mente é a natureza búdica, que é pura. Não importa o tamanho do ser, se é grande ou pequeno, pois a sua essência é pura.
Se todos nós temos uma essência pura, então por que surge a experiência do samsara? Porque ainda não reconhecemos nossa essência pura. Ela está encoberta por obscurecimentos temporários, como os venenos da mente e os obscurecimentos intelectuais. Temos o hábito de não entender, de não reconhecer a essência pura: é isso que gera a experiência do samsara. O caminho para transformar a experiência do samsara e chegar à consumação da natureza absoluta é o acúmulo de mérito e de sabedoria.
A natureza da mente de cada ser é inseparável dos quatro kaias e das cinco sabedorias (ou cinco aspectos do estado desperto) e, no momento, está encoberta por obscurecimentos temporários. Com a prática dos estágios do desenvolvimento e da consumação, podemos remover esses obscurecimentos temporários e alcançar a realização extraordinária: o reconhecimento da verdadeira natureza da mente. Pedimos as bênçãos para alcançar essa realização extraordinária, a consumação do reconhecimento sem esforço da natureza absoluta.
Ver Chagdud Rinpoche, Guru Rinpoche, estado desperto, samsara.
Mala
Para budistas tibetanos o Mala (Skt.: mala. Tib.: treng wa, འཕྲེང་བ་), ou Japamala, é ferramenta que ajuda a focar a mente. Ao usar o Mala para recitar mantras e orações, você o imbui da energia dessas preces tornando-o um objeto sagrado, símbolo de bênçãos e de proteção. A repetição desses sons sagrados abre o coração para o amor e a compaixão.
O Mala é utilizado para contar mantras em grupos de 108 repetições ou pode conter contas que somem múltiplos de 108, de modo que facilitem a contagem e acumulação das preces.
Pode ser usado como ornamento.
Ver Guru Bead, Bhum, marcador e contador.
Contadores de Mala
O budismo, como outras tradições, usa rosários de contas como uma forma de prática de meditação. O Vajrayana (budismo tântrico) exige que um aluno siga as instruções de sua linhagem, e isso inclui a realização de números definidos de várias atividades, incluindo a recitação, ou acumulação de mantras. Os contadores de Mala e marcadores de Bhum ajudam a apoiar e acompanhar essa prática devocional comprometida.
Há muitas maneiras de marcar e contar mantras, incluindo escrever em um papel, usando um contador de click mais antigo e até pedrinhas.
Uma volta completa em torno de seu Mala, recitando um mantra, é contado como cem. As oito contas restantes são deixadas para a “desatenção”.
Quando você termina um ciclo de mantras (cem repetições de mantra), move uma peça do contador (você pode determinar qual dos lados – lado A). Quando você termina dez ciclos, são mil mantras. Agora, mova as dez contas deste contador para a posição original e mova uma conta do outro lado (lado B). Ao completar todo o segundo lado, você realizou dez mil mantras, e é essa contagem que chamamos de Bhum, um ciclo de 10mil recitaçãoes.
Normalmente, o conjunto de contadores de mala tem um sino em e dorje no final, mas podem ser feitos com outros símbolos.
Você pode escolher um lado para contar as centenas 0 e o outro lado para contar milhares. A maioria prefere contar centenas no lado do dorje e milhares do lado do sino.
Nesse ponto, você pode reiniciar o contador.
É aí que entra em uso marcador de Bhum, irá ajudá-lo a rastrear as dezenas de milhares de mantras.
Marcadores de Bhum (que literalmente signivica ciclo) são “clipes” ou pingentes que são usados entre as contas do seu mala para contar grandes quantidades de mantras.
Você pode usar também vários marcadores de Bhum sempre que quiser resetar ou para marcar a recitação de diferentes mantras.
Incenso
A fumaça do incenso é uma oferenda ao olfato dos Buddhas. Ao fazer esta oferenda geramos mérito e podemos dedicar para uma pessoa escolhida e ampliar este desejo auspicioso para o benefício de todos os seres. E por ter esta interdependência de oferenda, desejo auspicioso e dedicação, o local onde o incenso é oferecido fica imbuido de energia positiva e sensação de paz.
Por serem feitos de forma tradicional, relíquias, preciosidades e ervas naturais, os incensos tibetanos também atuam de forma medicamentosa, aliviando alergias, dores e facilitando o relaxamento.
INGREDIENTES
Os principais ingredientes do incenso incluem sândalo, cravo, sandalo vermelho, cardmomo, açafrão, noz moscada, aquilaria agallocha, mel puro, açúcar de cana, shorea robusta, nandostachys jatamansi, canfora e pó de junípero. A estes também são adicionadas uma vasta gama de outras ervas e plantas típicas com poder medicinal e de fumigação.
Todos os ingredientes são primeiro moídos em pó. O pó é então misturado com água, açúcar e mel. O junípero é o componente principal, embora a quantidade de juníper depende do tipo de incenso.
A mistura, é amassada para ficar uniforme, é então armazenada em um grande recipiente em uma temperatura morna. Há um aroma especial como sinal de fermentação após cerca de uma semana.
Gugul, uma resina de goma, é adicionada a ela para atuar como uma substância adesiva e a mistura é mais purificada antes de ser colocada através do prensador para transformá-la em varetas de incenso. As varas são endireitadas, cortadas em tamanhos regulares e secas na sombra por vários dias.
INCENSO
A queima de incenso ou poe é um costume muito popular da cultura budista do Himalaia.
Com a sua origem em rituais budistas indianos de oferecer aroma (gandhapuja) e a antiga oferenda de fumaça de Bon (sang), o uso de incenso tem uma longa história e um profundo significado cultural e religioso.
Em seu sentido mais mundano, o incenso incorpora a essência do cheiro agradável, um dos cinco objetos do prazer sensual. É considerada como uma substância que estimula os sentidos, trazendo prazer físico e tranqüilidade mental.
Na sua forma última, o incenso simboliza a pureza e a perfeição de todos os objetos do sentido olfativo e é personificado sob a forma da deidade feminina Dugpoema.
De uma aldeia à um grande templo, a oferenda de incenso e de fumaça constitui uma prática muito comum e essencial, realizada diariamente para vários fins.
A queima de incenso geralmente é praticada como um ritual de oferenda.
Todas as manhãs, ao nascer do sol, surgem ondas de fumaça em frente às casas no Nepal, Butão, Índia, Tibete… . Em todos os templos e salas de meditação, o incenso também é queimado regularmente em incensários especialmente talhados, durante a meditação e em cerimônias.
Queimar incenso e ramos frescos de vários tipos também marcam a recepção de pessoas sagradas e importantes professores.
As procissões cerimoniais também são lideradas por uma pessoa que carrega um incensário com incenso perfumado.
A fumaça do incenso não é apenas uma oferta de cheiro perfumado, mas forma um meio para a visualização de uma oferenda muito maior e multifacetada. O incenso e outras substâncias a ser queimada são primeiro purificados através de uma profunda dissolução meditativa no estado de Vacuidade. Então, as ondas de fumaça, que surgem de forma ilusória da expansão do vazio, são transformadas através de uma projeção meditativa em infinitas nuvens de ítens maravilhosos oferecidos.
Então visualizamos as nuvens de oferenda multiplicadas para cobrir todo o universo e apresentadas aos vários objetos de veneração e oferta. A literatura budista classifica os destinatários da oferenda em quatro tipos de convidados:
- Os seres iluminados, como os Budas, que são objetos de veneração.
- As divindades celestiais, como os protetores do dharma, que possuem qualidades nobres.
- Os seres sencientes de seis reinos, que estão sofrendo no ciclo da existência e, portanto, dignos de compaixão.
- Os espíritos malignos que causam danos às pessoas para pagar a dívida cármica negativa acumulada nas vidas anteriores.
O fumaça de incenso é visualizada como inúmeros tipos de itens agradáveis e é apresentado a esses destinatários em qualquer forma e forma que desejem ter. A oferenda de incenso – fumaça é, portanto, um exercício de caridade e visualização meditativa.
Incenso como fumigante
A queima de incenso é também uma técnica de fumigação muito conhecida. O incenso contém ingredientes à base de plantas que possuem qualidades de medicinais. Além do poder das substâncias, a fumaça é investida de bênçãos de visualização meditativa e mantras poderosos. A fumaça de incenso é então usada por pessoas religiosas para centir objetos sagrados, pacificar espíritos, tratar pessoas doentes e purificar negatividades. O incenso também é usado para aplacar espíritos maliciosos e saciar os desejos de várias divindades.
Incenso como terapia
Composto por uma ampla gama de ingredientes à base de plantas, o incenso também possui um poderoso valor terapêutico. Pode ser usado em aromaterapia para relaxar o corpo e acalmar a mente. Ele ajuda a nutrir e estabilizar a composição psico-somática do ser humano. O aroma do incenso estimula os sentidos para desbloquear os canais de energia e libera o bem-estar pessoal.
Guru Rinpoche
Guru Rinpoche – Padmasambava, o mestre iluminado cujo surgimento foi profetizado por Buda Shakiamuni, propagou os métodos do Budismo Vajraiana extensivamente no século VIII no Tibete. Usando os métodos extraordinários do Vajraiana, ele subjugou as energias negativas, conduziu o rei e 24 outros discípulos à realização da natureza absoluta da mente e estabeleceu as instruções diretas de meditação de uma forma tão poderosa que hoje, 13 séculos depois, elas ainda oferecem um caminho autêntico à iluminação.
Guru Bead
Guru Bead (skt: मेरुः meru, tib: ལྷུན་པོ། (Wyl. lhun po): pedra do professor, guru.
Ao usar o mala pra a recitação de mantras, quando chegamos ao guru-bead, devemos reforçar a nossa devoção pelo Guru, aproximando-nos, buscando em nós um espelho de Sua imagem.
Parar no Guru Bead, girar o mala e retornar, duarante a meditação, remete aos aspectos de nossa vida quotidiana, é uma parada para refletir sobre a sua motivação e a importancia de sua meditação para o benefício dos seres.
Ver Mala
Gochen Tulku Sang Ngag Rinpoche
Gochen Tulku Sang Ngag Rinpoche foi reconhecido por Khyentse Chökyi Lodro Rinpoche como a sexta reencarnação de Gyalwa Gyatso, uma das duas reencarnações de Drimed Lingpa. Ainda menino, Tulku Sang Ngag estudou com seu pai, Namchak Tashi, com quem aprendeu a tradição de liturgias e rituais religiosos da sua família, bem como medicina tibetana tradicional. Aprisionado pelos chineses comunistas durante a Revolução Cultural, passou dez anos preso na companhia de muitos grandes lamas, tulkus e eruditos, dos quais recebeu mais ensinamentos.
Ao ser libertado, foi para a Índia e depois, para o Nepal. Durante 14 anos serviu Kyabje Dilgo Khyentse Rinpoche no Sechen Gonpa, onde também atuou como mestre-vajra e professor por sete anos. O descobridor de tesouros Padgyal Lingpa o encarregou formalmente da custódia de seus tesouros revelados e concedeu-lhe iniciações e ensinamentos deste ciclo. Muitos alunos do Chagdud Gonpa nos Estados Unidos receberam de Tulku Sang Ngag Rinpoche os ciclos de iniciações de Padgyal Lingpa, que são a base para a prática de Vajrasatva Vermelho que realizam. Dentre suas diversas atividades, estabeleceu centros nos Estados Unidos e tem sob sua direção um monastério de monjas em Parping, no Nepal. Em 2001, veio ao Brasil para consagrar as oito estupas do Khadro Ling.