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Rigpa
Rigpa é a luz clara, a verdadeira natureza da nossa mente. É o estado de pura consciência. É a sabedoria que existe para além de todas as limitações e através da qual conseguimos conhecer tudo.
O que vemos agora é o reflexo da nossa ignorância. Escapa-nos sempre alguma coisa e, por isso, temos sempre uma visão errada. Isto causa-nos grande sofrimento. Estamos a observar tudo através da lente da mente conceptual, que lança sempre uma sombra e tem muitas limitações. Não conseguimos ver através desta lente, e consequentemente não conseguimos ver a nossa verdadeira natureza. Precisamos de ir mais fundo, mergulhar na parte mais profunda do oceano. Quando lá chegarmos, ficaremos a saber tudo e a ver tudo sem pensar. Esta é a percepção directa, como quando observamos com os olhos. Os olhos nunca pensam. Vêem todas as coisas ao mesmo tempo.
No momento do sono e no momento da morte, atingimos naturalmente este estado. Normalmente, não compreendemos isto mas, através da prática e treino, é possível alcançar conscientemente este estado. É tão poderoso! Quando o alcançamos, libertamo-nos da visão errada e abandonamos o sofrimento.
Esta prática não integra técnicas nem conceitos nem meditação. Ao praticar Rigpa, deixamos simplesmente tudo como está e observamos. A mente é como água. Quando está parada, torna-se naturalmente límpida. Quando deixamos tudo tal como está, sem julgamentos ou reações e simplesmente percepcionamos o que existe, começamos a reconhecer a natureza da mente. Não fazer nada e deixar tudo como está é o mais difícil de tudo! Desta forma, usamos a nossa mente para observar a nossa mente. É assim que conseguimos conhecernos profundamente. Quando conhecemos a mente, conhecemos tudo.
Guru Ioga
Guru Yoga (Skt. Guruyoga ; Tib. བླ་ མའི་ རྣལ་ འབྱོར་, lamé naljor; Wyl. Bla ma’i rnal ‘byor) – a prática de fundir a mente com a mente de sabedoria do mestre. A prática consiste em visualizar o guru (quer em sua própria forma ou sob a forma de deidade), solicitando suas bênçãos, recebendo suas bênçãos e mesclando a mente com a mente da sabedoria do mestre.
O nosso mestre-raiz é o nosso canal para tudo. O nosso mestre-raiz dá-nos o medicamento dos ensinamentos e apresenta-nos ao nosso mestre interior, à nossa sabedoria inata. Precisamos de usar este canal; precisamos de usar o mestre. Esta é a forma de receber bênçãos.
Uma bênção representa uma mudança. Sem bênçãos, não é possível mudar. Mas as bênçãos não passam de boca em boca; passam de coração para coração. Este é o significado de um ensinamento caloroso. É algo que sentimos. Não basta estudar intelectualmente o budismo. Precisamos de um ensinamento do coração. Isto quer dizer que precisamos de nos ligar ao mestre. A devoção é que nos liga.
O Guru Yoga é a prática da devoção. Aprendemos a cultivar o amor e a devoção pelo nosso mestre dentro de nós. Isto abre-nos e reduz o nosso ego-orgulho. É assim que recebemos bênçãos.
Com o Guru Yoga, tudo se transforma em medicamento. Assim, ficamos em segurança. Sem o Guru Yoga, as práticas podem ajudar, mas apenas temporariamente; ou então podem mesmo transformar-se em veneno. Por este motivo dizemos que o Guru Yoga é a coluna vertebral da via Tantrayana. Sem ele, não há força nem poder na nossa prática.
O Guru Yoga é um método para sentir, não para pensar. Precisamos de sentir devoção, fé e respeito. Este sentimento muda tudo. Independentemente do que acontecer na nossa vida, temos de manter sempre este sentimento. Realmente, não é a pessoa que é nosso mestre; é este sentimento. Esta é a magia!
Algumas pessoas podem preocupar-se “Será esta uma boa pessoa? A quem devo dedicar a minha devoção?” Bem, ninguém é bom até o vermos como bom. E apenas o vemos como bom se nós mesmos formos bons. Pratique Guru Yoga e será bom. Verá as coisas mais claramente. É o ego-orgulho que cria a ilusão; por isso, temos de reduzir o ego-orgulho. Esta é a única forma de termos uma motivação correta ao praticar a espiritualidade. O Guru Yoga é uma forma de praticar a motivação e de ter a certeza de que tudo o que praticamos segue numa direção correta.
Tummo
Tummo (Tib. གཏུམ་ མོ་ , Wyl. Gtum mo ) ou chandali (Skt. Caṇḍāli ) é a prática do calor interior “, uma das Seis Yogas de Naropa e a “raiz do caminho”, de acordo com Dilgo Khyentse Rinpoche .
Tummo é o nosso fogo de sabedoria. Temos naturalmente este calor em nós, na área abaixo do chacra do umbigo, mas habitualmente não nos apercebemos dele e não o usamos. Quando desenvolvemos uma concentração adequada e começamos a trabalhar com o nosso fogo interior, conseguimos transformar-nos completamente.
Usando visualizações, técnicas de respiração e movimento, ligamo-nos ao nosso fogo interior e desenvolvemos cada vez mais este fogo. Trabalhamos com a respiração, levando-a a um nível mais elevado, o que muda o nosso sangue. Este sangue aquecido afecta por sua vez as nossas hormonas. Não é um assunto muito debatido a nível académico, mas conseguimos experimentar as profundas alterações resultantes do desenvolvimento do fogo do Tummo e da sua disseminação pelo corpo. Não se trata de simples visualizações, mas de algo tangível.
A nível físico, o fogo interior é responsável pela temperatura do nosso corpo — o calor que acompanha a digestão e o metabolismo, o calor que alimenta as reacções químicas e produz as hormonas. A nível energético, o fogo do Tummo derrete os obstáculos mais subtis existentes nos canais e provoca uma explosão de energia por todo o corpo. A nível mental, o Tummo é a fonte do amor, alegria, felicidade e felicidade-êxtase.
À medida que a chama cresce, começando abaixo do umbigo e elevando-se cada vez mais alto, penetra suavemente cada um dos chacras principais, espalhando-se a todas as ramificações e a todos os poros do corpo.
Os chacras são portas secretas que dão para o nosso ser. Abrindo-as e ligando-nos ao nosso fogo de Tummo, alcançamos grandes realizações. Desta forma, aproveitamos a nossa sabedoria interior. A partir desta grande presença, conseguimos realizar a verdadeira natureza da mente, a sabedoria fundamental e o amor e compaixão incondicionais.
Tsa Lung
A saúde do nosso corpo subtil é de extrema importância para a saúde do nosso corpo físico e felicidade da nossa mente. O corpo subtil é composto por três coisas: pelos canais (tsa) e pela energia de vento (lung) e essências (tigle) que fluem através deles. Os bloqueios nos canais provocam desequilíbrios nos sistemas do nosso corpo, uma vez que os nutrientes básicos, oxigénio e sangue não fluem devidamente. Estes bloqueios causam ainda bloqueios energéticos e mentais. A não ser que alimentemos activamente o nosso corpo subtil, todos os dias perdemos alguns canais. Felizmente, o budismo Tantrayana possui métodos poderosos para abrir os nossos canais e deixá-los desobstruídos e flexíveis.
O Tsa Lung é uma prática que trabalha intensivamente com o nosso corpo subtil. Combinando técnicas especiais de retenção da respiração com movimentos físicos e visualizações, deslocamos a energia de vento por todo o corpo, permitindo que chegue a locais profundos e que abra cada vez mais canais subtis. Quando o vento flui livremente, esta energia pode ser usada para a auto-cura ou pode ser transmitida a outros.
Esta prática física é muito dinâmica e poderosa. E a retenção da respiração coloca um desafio adicional. No entanto, é muito importante que treinemos a respiração. À medida que envelhecemos, a nossa respiração torna-se cada vez mais superficial e deixa de chegar a todas as partes do corpo. Por isso, precisamos de reaprender a respirar mais profundamente. E quando a respiração flui, a mente flui. Quando trabalhamos com a respiração, mudamos completamente os nossos pensamentos. E quando paramos a respiração, atingimos a profunda quietude da mente.
Mantra da Compaixão
ཨོཾ་མ་ཎི་པདྨེ་ཧཱུྂ༔ –
é o mantra mais conhecido no budismo tibetano, “o mantra de seis sílabas” do Buda da Compaixão, Chenrezig ou Avalokiteshvara.
Dalai Lama é a reencarnação de Avalokiteshvara, então este mantra é especialmente reverenciado por seus devotos.
Basicamente, a tradução de Om mani padme Hung é “Om Joia contida no Lótus Hung” ou “Prece para a joia contida no Lótus”.
Contudo, O significado dessas seis sílabas tibetanas podem ser interpretados de diversas maneiras.
Uma interpretação comum é a de que cada sílaba corresponde a um dos seis reinos da existência e purifica o vício associado a esse reino. Também há referência de que a recitação de cada uma das sílabas impede renascimento no correspondente reino.
- OM purifica bem-aventurança e orgulho (Reino dos Deuses)
- MA urifica ciúmes e necessidade de entretenimento (Reino dos Deuses Invejosos)
- NI purifica paixão e desejo (Reino Humano)
- PAD purifica ignorância e discriminalçai(Reino Animal)
- ME purifica avareza e mesquinharia (Reino dos Fantasmas Famintos)
- HUNG purifica agressão e ódio (Reino dos Infernos)
Em seu livro, Heart Treasure of the Enlightened Ones, Gen Rinproche fala sobre o mantra:
“O mantra Om Mani Padme Hung é tão fácil de dizer e ainda assim é imensamente poderoso, porque contém toda a essência do ensinamento do Buda:
Quando você diz a primeira sílaba, Om, você é abençoado na busca da perfeição na prática da generosidade,
Ma ajuda a aperfeiçoar a prática da ética pura, e
Ni ajuda a alcançar a perfeição na prática de tolerância e paciência.
Pad, a quarta sílaba, ajuda a alcançar a perfeição da perseverança.
ME ajudo a alcançar a perfeição na prática de concentração na sexta sílaba final.
Hung ajuda a alcançar a perfeição na prática da sabedoria.Assim, desta forma, a recitação do mantra ajuda a alcançar as seis perfeições, da generosidade à sabedoria. O caminho dessas seis perfeições é o caminho percorrido por todos os Budas dos três tempos.
O que poderia ser mais significativo do que dizer o mantra e realizar as seis perfeições? “